Utiliza a Análise Técnica e não vem obtendo bons resultados? Confira este novo artigo e veja a provável causa
Você viu um sinal mais que perfeito nos gráficos de análise técnica, todos os indicadores alinhados com a tendência, aquele trade que você não vai se perdoar se não entrar, você, com toda a certeza do mundo, resolve embarcar na operação. O preço vai seguindo a seu favor, quase toca o seu alvo … mas reverte com tudo, manda a sua operação pra casa do chapéu e aciona o seu stop.
“Os sinais estavam claro! O que aconteceu? CHEGA! Vou voltar para a poupança. Não quero mais saber dessa %¨$¨&# de Análise Técnica. ”
Se identificou?
Mas, se os sinais estavam tão claro, o que pode ter acontecido para a operação ter dado tão errada?
Conceitos que abordaremos neste artigo
Como de costume, antes de iniciarmos o artigo, vamos simplificar alguns conceitos que veremos:
Bovespa: É a bolsa de valores oficial do Brasil.
B3: É a empresa responsável pela Bovespa.
Tendência: Direção para onde o preço de um ativo negociado na Bolsa de Valores está se movendo. Tendência de alta = preços subindo. Tendência de baixa = preços caindo.
Indicadores: São ferramentas que auxiliam os usuários da análise técnica (Traders) a analisar um determinado ativo e tomar decisões.
Alvo: É o preço em que pretendemos sair de uma operação com ganho.
Stop Gain: Ordem de venda automática de um ativo.
Introdução
Um dos indicadores mais tradicionais na análise técnica é a linha de resistência, essa é a linha que marca até onde o preço de um ativo chegou antes de reverter a sua tendência. Por exemplo, se o preço de uma ação estava subindo e começou a cair bruscamente após chegar a um determinado ponto, chamamos este determinado ponto de resistência.
Se em algum momento no futuro, o preço do ativo ultrapassar com força a resistência anteriormente traçada, há uma grande chance do ativo continuar a sua tendência até que encontre uma nova resistência. Por isso o rompimento de uma linha de resistência é um grande sinal de compra ou venda de um ativo.
O grande problema, que ocasiona a situação que relatamos no início do nosso artigo, é quando o ativo rompe uma resistência, segue a sua tendência (de alta ou de baixa), mas antes de se quer chegar perto da próxima resistência, ele reverte a tendência (de alta para baixa ou de baixa para alta).
Por que isso acontece?
Antes de responder a essa pergunta, veja o quadro abaixo disponibilizado pela B3 neste Link
Este quadro representa a divisão de quanto foi movimentado em Julho/2018 em todos os segmentos (ações, opções, termo etc.) da Bovespa. Repare, conforme destacamos em amarelo, que o investidor estrangeiro movimentou quase 50% de todo o volume financeiro da bolsa em julho de 2018. Este percentual é uma média que tem se mantido constantemente nos demais períodos.
Agora responda. Qual a grande diferença em como estes investidores enxergam a Bovespa e você?
3 segundos para você pensar.
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PAN!!! Tempo esgotado.
Resposta: Enquanto nós enxergamos a bolsa de valores e o preço das ações em Reais, eles enxergam tudo isso em Dólar.
O investidor estrangeiro analisa bolsas do mundo inteiro, cada uma dessas bolsas é negociada em moedas diferentes: Reais, Libras, Euros, Ienes …. Para poder comparar o desempenho das empresas do mundo todo e com isso tomar suas decisões, este investidor precisa que todas essas informações estejam em uma única moeda, no caso a moeda mais negociada do mundo, o Dólar.
A variação do dólar muda TOTALMENTE como esse investidor enxerga a nossa bolsa. Um ativo que antes era barato, pode ter ficado extremamente caro devido à desvalorização do dólar, assim como, um ativo que parece caro para nós, pode parecer uma pechincha para o investidor estrangeiro quando o dólar se valoriza.
Exemplo 1
Vamos supor que você comprou uma ação qualquer, e definiu o seu alvo em R$ 5,00, que foi o valor que esta ação fez uma resistência em 31/03/X9, dia em que 1 dólar fechou cotado a R$ 4,00, sendo assim, na visão do investidor estrangeiro, a resistência desta ação em 31/03/X9 foi de US$ 1,25 (R$5 ÷ R$4).
Agora imagine que você está analisando o gráfico desta ação um mês depois, no dia 30/04/X9, onde o preço dela está em R$ 3,50 e o 1 dólar está cotado a R$ 3,00. Isso significa que no seu gráfico a ação ainda precisa valorizar 43% para sair dos R$ 3,50 de hoje e chegar nos R$ 5,00 da resistência do dia 31/03/X9.
Já para o investidor estrangeiro, como o dólar agora está cotado a R$ 3,00, a ação que está a um preço de R$ 3,50 vale US$ 1,17 (R$ 3,50 ÷ R$ 3,00). Sendo assim esta ação precisa valorizar apenas 7% para chegar a US$ 1,25. Como o dólar está cotado em R$ 3,00, logo o preço da ação tem que chegar a R$ 3,75 (US$ 1,25 x R$ 3,00).
Ou seja, enquanto você enxerga um potencial de valorização de 43%, achando que a ação pode chegar facilmente a R$ 5,00, o nosso amigo investidor só enxerga um potencial de valorização de míseros 7% e acha que a ação deve ser vendida a R$ 3,75, caso não haja variações significativas do dólar.
O que você acha que vai acontecer quando a ação chegar a R$ 3,75?
A força vendedora será tão forte que fará os preços caírem, e lá se foi o seu alvo de R$ 5,00.
Exemplo 2
Vamos usar o mesmo exemplo, mas invertendo as cotações do dólar dessa vez.
Dessa forma, a nossa resistência ainda são aqueles R$ 5,00 ocorrida no dia 31/03/X9, mas dessa vez o dólar nessa data estava cotado a R$ 3,00, ou seja, na visão do investidor estrangeiro o alvo é de US$ 1,67 (R$ 5,00 ÷ R$ 3,00).
No dia 30/04/X9, assim como no exemplo 1, a ação está cotada a R$ 3,50, porém o dólar está cotado em R$ 4,00.
Nossa ação tem que valorizar os mesmos 43% para chegar na resistência de R$ 5,00.
Já para o investidor estrangeiro, como o dólar está cotado a R$ 4,00, a ação que está a um preço de R$ 3,50 vale US$ 0,88 (R$ 3,50 ÷ R$ 4,00). Sendo assim esta ação precisa valorizar 90% para chegar a US$ 1,67. Como o dólar está cotado em R$ 4,00, logo o preço da ação tem que chegar a R$ 6,67 (US$ 1,67 x R$ 4,00).
Ou seja, enquanto você está enxergando um potencial de valorização de 43%, achando que a ação pode chegar a R$ 5,00, o nosso amigo investidor está enxergando um potencial de valorização de 90% e acha que a ação deve ser vendida a R$ 6,67, caso não haja variações significativas do dólar.
O que você acha que vai acontecer dessa vez?
A ação vai passar o seu alvo, vai acionar o seu stop gain, mas ela vai continuar subindo até pelo menos R$ 6,67, ou seja, apesar de dessa vez você ter ganho quando vendeu a ação a R$ 5,00, você poderia ter vendido ela por R$ 6,67 e ter um ganho extra de 33%.
Os exemplos acima são com operações de compras, mas eles também são aplicáveis nos casos de operações de vendas.
Você pode estar pensando agora:
“Mas o investidor estrangeiro só representa 47% do volume financeiro, ele não vai ser o suficiente para mudar a tendência, visto que 53% do mercado não vai estar seguindo ele.”
O seu pensamento é inválido por dois motivos:
- 47% é mais que o suficiente para mudar completamente os rumos de uma tendência.
- Você acha mesmo que os grandes investidores institucionais que representam quase 28% do volume financeiro da bolsa e as instituições financeiras que representam quase 5% deste volume não sabem da influência do dólar na decisão dos investidores estrangeiros? Você realmente acha que eles vão seguir o fluxo contrário do investidor estrangeiro?
O que fazer nesse caso?
Há algumas opções que podemos fazer para tentarmos nos adaptar ao impacto do dólar nas nossas análises:
1- Utilizar uma plataforma gráfica que mostra as cotações das ações brasileiras em dólar.
Esta é a forma mais eficiente, pois nos permite analisar as ações na visão do investidor estrangeiro, dessa forma conseguimos operar sem que a variação do dólar interfira na nossa estratégia.
2- Operar em uma plataforma gráfica em Reais, mas fazer as conversões manuais para Dólar.
Essa estratégia dá mais trabalho, pois precisaríamos converter manualmente todas as resistências, pontos de compra e venda, preços atuais e outros que utilizamos nas nossas análises. Ainda assim, é uma estratégia válida.
3- Operar com base em dados mais curtos.
Ao operar utilizando apenas dados mais curtos, como resistências formadas a pouco tempo ou outros indicadores que se ajustam aos preços mais recentes (como médias móveis exponenciais) diminuímos o nosso risco de erros, pois este risco só seria alto caso o dólar sofresse altas oscilações no curto prazo.
4 – Operar apenas com ações negociadas nas Bolsas dos Estados Unidos (ADRs).
Quando uma empresa tem suas ações negociadas na Bovespa e também nas Bolsas dos Estados Unidos, é comum haver semelhança entre os preços das ações em ambas as bolsas quando convertidos. Dessa forma, o gráfico dos ADRs são uma boa representação de como seriam os gráficos das ações brasileiras em dólar.
5- Ignorar completamente o Dólar e torcer para tudo dar certo.
Não é uma opção muito aconselhável
Conclusão
Nós estamos em momentos de muita instabilidade econômica e política. Do dia 05/09/2017 até o dia 04/09/2018 o dólar saiu de R$ 3,12 para R$ 4,16, uma valorização de mais de 33%. Imagine a distorção que essa valorização pode causar em uma análise.
Tão importante quanto ter o conhecimento específico para operar utilizando a Análise Técnica, é saber gerenciar os riscos das suas operações. Temos que buscar sempre ganhar muito quando acertamos e perder pouco quando erramos. Como demonstramos nos nossos exemplos, ignorar completamente a influência do dólar pode ocasionar na inversão dos nossos resultados, ou seja, ganhamos menos quando acertamos e perdemos muito quando erramos.
Temos certeza que a partir de agora, sempre quando você operar utilizando a Análise Técnica, uma voz surgirá na sua cabeça te questionando “Você considerou o dólar na sua análise? ”.
Escute essa voz, ela pode salvar o seu dinheiro.
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Difícil é encontrar uma plataforma com o gráfico das ações em dólar 🙁